quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Adiamentos

São tantos desafios simultâneos atropelando nossa atenção, nossos projetos e desejos que se afoga a vontade que não saiba debater-se em nado, para fora do nada, do vácuo aquoso da avalanche das circunstâncias. Vontade é chave e fechadura, tranca e rodopio, abertura e esperança. É um alvo pulsante, uma certa inquietação cardíaca das catacumbas daquele silêncio intestinal que evitamos ao longo do incêndio a que chamamos vida enquanto nos hipnotiza a chama que nos asfixia. A certeza de novos agoras, de novos hojes, de um amanhã aprazível em que possamos adormecer nossos sonhos cauteriza a ferida da vida adiada, do potencial atrasado, do futuro espremido entre os dias cada vez menores. Enganamos nossa esperança e com ela se esvai aquela energia primal, ardente e ritmada da cadência sanguínea, do fluxo do que devemos ser. O maior pecado é o adiar-se a si mesmo.

Renato Kress

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